quarta-feira, 24 de julho de 2013

Irmãs de coleira – Pontos, contrapontos e conclusões



Esse texto foi primorosamente escrito pela kajira laryssa{CSoG} e me chamou a atenção pela coerência e pela propriedade com os quais ela trata o tema; como conheço de perto essa relação (ela e a "irmã" pertencem a um grande amigo) e sei que é possível uma relação harmoniosa, gostaria de postar aqui o material por ela produzido:

Falar sobre irmãs de coleira não é um assunto fácil para a maioria das submissas. Pretendo com esse texto expor a minha opinião sobre o assunto sem a preocupação com a publicidade do tema, o efeito polêmico que este possui, a posição do Dono a respeito ou mesmo o meu papel em Gor com relação às irmãs. Aqui pretendo apenas expor minhas idéias, sensações, impressões e opinião da forma mais sincera que puder.
Em primeiro momento, vejo a necessidade de conceituar o tema proposto de acordo com a minha visão, esta que difere em alguns pontos com o conceito mais bem aceito na comunidade BDSM e que nem por isso é melhor ou pior, dependem exclusivamente dos fins a que se propõem os participantes da relação, das dificuldades de cada um, bem como de suas limitações.
Irmã de coleira, em minha opinião, é alguém com quem se tem um relacionamento pacífico de convívio (virtual ou real) em função de um relacionamento na modalidade de D/s, geralmente por força deste último, assim como diretamente ligado a ele.
Sendo assim, não vejo irmandade em relacionamentos com base em Dominação e submissão, quando há ausência de contato e/ou interação amigável entre as partes.
Nem sempre pensei assim. E explico porque mudei. Viver uma relação de irmandade implica em viver uma relação, (deveria ser óbvio) ter convívio, mesmo que virtual, conhecer o outro e tudo o que implica em relacionar-se de forma geral. Afinal, acredito que é por este motivo que o termo “irmãs de coleira” existe. Do contrário, seria pressupor que apenas em relacionamentos de vivência do fetiche Daddy/babe existem irmãs de coleira, afinal, apenas neste fetiche a expressão “irmã” estaria mais bem colocada.
Sendo assim, se em qualquer relacionamento baseado em D/s usualmente utiliza-se o termo “irmã(o) de coleira”, o que tal expressão quer dizer? Em minha opinião simplesmente a característica de irmandade em uma relação de Dominação e submissão que liga diretamente duas ou mais pessoas.
Mas o que seriam relações de irmandade? Irmandade implica em fraternidade, ser fraterno a. Tudo o que foge desse parâmetro não considero como “irmã(o)”, simplesmente por não estar dentro da proposta conceitual.
Diante de tais colocações, passarei a aprofundar este meu conceito pelo ângulo psicológico do tema.
Tal qual relações de irmãos no sentido parentesco, eu vejo a relação entre irmãs de coleira de forma muito parecida. Eu li num artigo da psicoterapeuta Marilena Henriques Teixeira Netto , um parágrafo muito importante acerca da visão real do relacionamento entre irmãos, como são encarados. Ela diz:
 “Quando pensamos sobre o comportamento entre irmãos, coisas como ciúme, inveja, rivalidade, competição, etc., pensamos sempre como comportamentos anormais e negativos. O ciúme é visto como algo totalmente condenável e proibido entre irmãos, principalmente, em relação ao irmão mais velho, quando nasce o segundo filho. Muitos pais chegam mesmo a dizer ao filho, que o ciúme é feio, que não deve nunca existir em relação ao irmãozinho e que esse veio para brincar com ele, ser seu amigo e companheiro nas brincadeiras. Isso é verdade, mas existe também uma outra verdade que nunca dizemos, mas sabemos. Esse irmão veio para dividir com ele o amor da mãe, do pai, dividir a casa, às vezes o quarto, os brinquedos, a atenção dos parentes, etc. A criança percebe essa verdade no momento em que a mãe chega da maternidade com o bebê no colo. O colo já começa a ser dividido desde então. O ciúme, nesse caso, é esperado e, portanto, normal.”
A opinião da Maristela Henriques coaduna com a minha. É importante explicitar que, assim como na relação de irmãos, embora cada uma ocupe o seu lugar na vida do Dono, todas elas acabam por concordar em dividir Sua atenção, carinho, tempo e tudo mais que for pertinente a Ele e, portanto é natural que se sinta ciúmes, dependendo, é claro, do nível de maturidade específico de cada uma com relação a esse assunto.
Embora este não seja o comportamento mais adequado, é claramente aceitável, sobretudo com aquelas que não estão acostumadas com essa realidade desde a infância, como é parcialmente o meu caso. Como dito anteriormente, a maturidade específica, que decorre das vivências pessoais de cada irmã nesse assunto, influenciará muito nas reações apresentadas. Contudo, repito o que a psicoterapeuta escreveu em seu artigo: o ciúme não é condenável, é normal e acredito que todas as atitudes do Top devem ser analisadas sob este prisma.
Não desejar que sua escrava sinta ciúmes é compreensível. Puni-la, julga-la incompetente como escrava ou insubmissa, por ela sentir ciúmes, não é. Assim como os pais precisam lidar com a chegada do novo filho e as atenções que precisará dispor ao mais velho, a fim de que este não se sinta desimportante, o Top tem essa obrigação e faz parte de seu papel lidar com os problemas que decorrem de tal situação criada por Ele.

Em um artigo de psicologia da USP há uma colocação bem interessante sobre como podem ser evitados dissabores na relação entre filhos por parentesco:

 “O comportamento desagradável e desrespeitoso está diretamente relacionado ao medo de deixarem de ser amados. As crianças precisam da reafirmação do amor neste momento, juntamente com regras mostrando o que podem e o que não podem fazer. Com frequência a resposta dos pais a um mau comportamento confirma o pior sentimento que as crianças têm – o de que foram substituídas pelo novo irmãozinho e deixaram de ser amadas”.
Comparar comportamentos de crianças a comportamentos de adultos é um absurdo? Pode ser. Contudo, em minha humilde opinião e vivência no assunto, acredito que todos nós temos diferentes tipos de dificuldades e níveis de maturidade sobre os mais variados temas que se possa discorrer. Afinal, o que nos difere em comportamentos das crianças é justamente a maturidade adquirida e o desenvolvimento de certas áreas da vida. Portanto, pode ser tão difícil para um adulto lidar com algo quanto para uma criança e não vejo demérito algum em assumir isto. Tenho outras experiências mais desenvolvidas e consigo lidar com outros problemas em outras áreas, assim como todo ser humano saudável.

Posto isto, o que dizer acerca da experiência a qual estou vivenciando?
Resta claro para mim, que tenho dificuldades em encarar problemas emocionais sem fuga, que esta experiência é absolutamente encantadora. Certa que é como escolher o pai que escolherá seus irmãos, mas certa também que é ter a gratificante vivência de ter uma família em seu apoio. Não fosse por esta qualidade em relacionamentos assim, não haveria continuado.

Ter uma base que lhe sustente e impulsione os sonhos é saudável, agradável e prolonga a sensação de carinho e acolhimento que deve ser oferecida primeiramente pelo Dono.
É verdade que não é das experiências mais fáceis de se lidar quando ainda se é uma “criança” nestes terrenos da vida. Porém, quando a relação com as irmãs é saudável e apoiada na certeza de que não faltará um espaço suficiente para a escrava na vida do Dono, é amplamente intensa e satisfatória, chegando a ser indispensável na própria vida, seja nesta, seja nas relações futuras que se pretenda ter.
Ser irmã então pode ser sentir-se acolhida por mais alguém, ter o dobro de atenção (no lugar de dividir atenção), é sentir falta de momentos a três, de causar espantos nas baladas com beijos triplos, quádruplos! Enfim, é estender carinho a mais uma e receber em troca o mesmo. É apaixonar-se por mais alguém (quando se tem afinidades para tanto) ou até mesmo alguém para dividir os problemas e tarefas (tsc)!

Eu tenho sido muito feliz. Mesmo com meus incontáveis medos advindos de quem mais possa entrar nesta relação futuramente, mesmo com minhas pequenas crises de ciúme infantil (afinal, ainda sou uma “criança”!) e mesmo que esta relação não dure. Acredito que todas as escravas deveriam ter esta experiência uma vez na vida, afinal, para dizer que não se consegue algo, é necessário tentar. Para saber que não gosta de chocolate, é preciso experimentar, como eu fiz.

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